O herói das mil faces
Eu considerei a beleza do caminho das pedras, pois nele
também há libertação. Andar por sobre os afiados pedregulhos, ferir os pés na
lâmina dos seixos, cansar as pernas e fraquejar diante dos obstáculos fazem
parte do trajeto. No entanto, foi aí que percebi que o verdadeiro herói jamais
dispensa os perigos, as aventuras, as perdas, os mistérios, o sangrar, mas
sobretudo ele insiste em não desistir para renascer: cada passo depois da
partida é um passo a mais em direção ao Paraíso, Shangri-la místico, Pasárgada
eternamente encantada.
Eu considerei que a beleza da batalha está na persistência,
no usar constantemente as garras, a garra, a força de vontade, a fé. Está no
enxugar as lágrimas, atravessar o limiar entre o que era, o que está sendo e o
que virá. Está em descobrir dentro de si artifícios e artimanhas dantes nunca
manifestados. Está, principalmente, em ultrapassar barreiras, agregar valores,
conquistar prêmios, fincar raízes no que era inatingível e impossível, mas sem
perder a humildade e o amor: alma de herói é, para toda sede, uma nascente de
água doce.
Considerei, por fim, que as provações só levam à redenção
aqueles que se atrevem. O herói, além dos louros do reconhecimento, volta para
casa com o elixir, com a experiência a ser compartilhada e com a felicidade
maior, por saber que, enfim, foi além do Everest e tudo está a salvo, mas
diferente do início da jornada. Em suma, entre o mundo real e o especial de cada
história de heroísmo, encontra-se um ser de luz mais que brilhante tal qual sol
ou diamante, e com um sublime coração, doando-se completamente a cada etapa de
sua missão.
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