Rosângela Trajano
Não sei o que quero da vida ou sei e
digo não saber, não sei. Às vezes quero tudo, um tudo que é tão pouco. Noutras
apenas realizar meus sonhos. Penso que no coração fica um pouco do que eu podia
ter sido e por medo não fui atrás. Desassossego. Gostaria de ter em minhas mãos
duzentas pilhas de Daniell para brincar de ligar sonhos. Não sou um ânion, sou
um cátion. Vou ver o espelho no meu poço de desejos, de dúvidas, de ânsias que
ninguém ousa jogar uma moeda para me alimentar. Quero, sim. Quero todos os
sorrisos que o mundo puder me oferecer. Dizem que o sorriso cura doenças. Estou
doente. Ontem perdi um sonho. Procurei meu sonho nas estantes e não o achei;
procurei meu sonho no buraquinho do telhado em cima da minha cama e ele lá não
estava; meu sonho perdeu-se em meio a uma multidão de funções e algoritmos que
ficaram por responder ou tiveram respostas ao acaso. Senti medo. Medo de tirar
a roupa e nunca mais ser eu mesma. Fui dormir com a roupa da rua. Roupa da rua
cheira a um dia fora de casa. É como se neste dia eu tivesse guardado meu sonho
num lugar tranquilo do meu quarto bagunçado para ir fazer não sei o quê. Esse
não saber me desenha na ilusão da última camada do Hidrogênio. A
eletronegatividade da esquerda para direita me grita: és forte! Sou não. Sou
apenas uma menina que cresceu sem saber fazer escolhas, sem saber que os sonhos
às vezes brincam de esconde-esconde. Ah, o sonhar! Eu fui princesa que morava
numa casa com quatro paredes e panelas espalhadas pelo chão nos dias de
chuva... as goteiras? As goteiras foram minhas companheiras quando eu não tinha
com quem conversar sobre a vontade de ser princesa e morar num castelo. Eu
quis, eu quero, eu talvez queira mais tarde. Atrás de mim há um jardim com
flores de garrafas pet. Vida, vida, vida não faça eu sentir tantas dores. Me
deixe sonhar os sonhos de uma noite no sertão. Case comigo, sonho passageiro.
Hoje passei o dia estudando trigonometria e o seno de quarenta e cinco graus
não é maior do que o frio que sente meus pés neste instante. Buuummm! Explodi o
laboratório de química! Era uma fórmula de cloro mais iodo. Me tragam de volta,
eu só sei fazer poesia e sonhar! E se os sonhos viajam com as nuvens amanhã
cairei em pingos na Terra, pingos que descerão as ladeiras da mediocridade para
um encontro com o artífice pai da realidade. Sonho, sonho sim, sonho acordada
para nunca esquecer que o os planetas giram em torno do sol, não somos o centro
do Universo, sejamos mais gente.
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