Éverton Santos
À Christina Ramalho, musa azul.
É
só procurar na internet que encontra. Põe lá no Google, na enciclopédia digital, “o lago mais azul do mundo”.
Constam informações de que o Peyto, no Canadá, é o suntuoso deslumbramento em recinto
de água doce, de cor mais que celeste. Se acaso procurar pelo “mar mais azul do
mundo”, aí é que se cria a danação: entre o das Maldivas e o da Praia do
Francês, em Alagoas, talvez a escolha seja facilitada apenas através do contato
empírico e não somente pela via indireta, a viagem pela tela do computador, no
ciberespaço. De azuis são feitos esses pontos geográficos na Terra localizados.
Não são, porém, para mim, o azul mais vivo e místico que já vi.
Garanto
e dou fé que de nenhum azul já descrito são banhados aqueles olhos. Sim, são
azuis, mas de uma cor que não está em escala monocromática alguma, tesouro de
uma forma só. Pode procurar os tons que quiser, buscar em sites de todo o
mundo, e nada igual se achará. Se quiser, então, investigue em outros olhos, perscrute
firmemente rostos que para eles servem de moldura. Mas, não, julgo com tamanha
certeza que não existe algo que se aproxime da nuança peculiar somente
encontrada naquela ofuscante e sublime visão tua, a qual merece um altar.
Um
girassol da cor do teu cabelo. Um lago, um mar ou um firmamento não há da
tonalidade dos teus olhos, simples assim. A tranquilidade que entoam é tal qual
o cântico dos cânticos, o bálsamo de mais valia, o oásis de frescor sensível
que eleva e redime. É a paz sonhada em Gaza, a rosa do povo, a salvação que
pisca em corpo que pulsa. Teus olhos são vida, e o azul deles é segurança,
abrigo fortificado à beira-mar ou floresta. Reduto de esperança e de sincero
acolhimento.
O
fascínio e a sedução, poesia. De onde vem a luz somente tua? Porventura, nos teus
olhos há de Calipso o feitiço, por acaso aprisiona e deles faz arma? De que
forma consegues capturar e tornar cativo, por livre vontade e entrega total,
todo aquele que com teu olhar, por sorte, se defrontar? São espelhos d’água
musicados, e que, no embalo do teu corpo, na tela de pintura que é teu rosto,
merecem o galardão de maior apreço, o reconhecimento pelo estonteio que
arrebata.
Da
musa como um conjunto, da perfeição inventiva de dois artistas, somente os
olhos fotografo: apreendo, de forma simplória (pois estás no cume do Olimpo por
mim inatingível), a inebriante luz que o piscar jamais esconde. Açula o
pensamento, me faz intelectual e criativo, controla a minha mente e até túmulos
clareia. A noturna beleza dos azuis representa tua integridade e sabedoria, tua
verdade e confiança. E, agora, penso eu: de que cor mais oportuna seriam estes
espectros? A garota carioca, apaixonada pelo mar, teria dele roubado um pedaço
escondido do que reflete e refrata? Seria esse o teu segredo, sereia de todas
as águas, de Iemanjá serias afilhada?
Tua
mãe muito contemplou da piscina as cores, ou o céu a correspondia quando, para
ele, ela os olhos volvia? Aturdido ainda fico, pela ideia que em mim veio
habitar. Terei eu ficado refém, perdido minha alma, sem ao menos isso perceber?
Escravo liberto e devoto, fanático por um olhar de relance que seja? Talvez.
Apenas sinto em mim latejar o desejo de eternizar o brilho azul, esboçando-o de
forma lírica. És, indubitavelmente, um poema épico formoso e a ti dedico uma festa
maior que carnaval: essa, podes acreditar, é a celebração dos teus olhos, e
isso compreende o teu ser por completo e inteireza. No inadiável do querer
dizer, na ruminante imaginação minha, no que em mim mais forte pulsa e se faz
rei, venho proclamar que os teus olhos sempre terão a luz que nenhum Natal,
iluminado que seja, jamais em nunca alcançará a tamanha magnitude que
comportam.
Porque,
em mim e em tantos, o teu olhar, como a lua no céu, sempiternamente, vive. Pontos
que faíscam no horizonte do sem-fim. Espelho do mundo, filho das constelações.
Enfim, por contemplar-te em demasia e insuficiência, como minha religião, estou
também completamente azul.
Belíssimo!
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