Éverton Santos
Ser esquecido é como estar se afogando, agonizando por
socorro, se debatendo em desespero, sem saber nadar, a poucos metros da areia
ou da margem. Ninguém entra na água, ninguém pode salvar: o que resta do resto
é um corpo entregue ao nada, uma matéria sem existência, um tênue registro do
já-foi e do nada-mais-é.
O ser esquecido dói mais do que a ferida de ver a pessoa que
você ama te olhar nos olhos, seriamente, e ouvi-la dizer, em voz de veludo e
violino, que não dá mais pra continuar com você. Esse é, pois, o início do pior
esquecimento indigesto e intragável: o deixar-de-ser.
Esquecer é não lembrar ou morrer na memória? É deixar, no não-mais,
a história; é ver bailar a poeira como estrelas de pó sobre cada finito “Era
uma vez...”. E, se viver é mesmo um livro de esquecimento, esquecer é,
sobretudo, carregar um obscuro cemitério na cabeça.
E o que falar de tudo o que morre e continua vivo nas
reminiscências? E o que dizer de tudo o que fica morto na recordação de um e
ainda mais vivo na vida de outro? E mais: como pode sobreviver aquilo que, nem
querendo, vai deixar de ser agora apenas uma ideia?
O esforço pra lembrar é a vontade de esquecer. E o esforço
pra esquecer aguça o desejo de não mais lembrar. No entanto, a pressa de tirar
da mente pode ser tanto uma necessidade quanto uma obrigação: necessidade de
paz interior e obrigação de desfazer os nós que prendem os presentes e os
futuros às amarras dos passados, em nome do por-vir.
Entre o tempo e o vento há o passar. Entre eles e a memória,
o sempre-lá.
Quem lembra salva um afogado.
Imortalidade não é não
morrer: é não ser esquecido.
Éverton Santos
Esquecer é libertar-se...
ResponderExcluirSignificativas palavras, cronista!