sexta-feira, 12 de julho de 2013

QUEM RESISTE A UMA LÁGRIMA?


Éverton Santos

E observem que também é com as lágrimas
que o homem lava as aflições do homem.
(Baudelaire)

Não, não me diga que você não se compadece ao ver alguém chorando.
A lágrima é como o sangue: é aquilo que deve ficar do lado de dentro porque, se for externalizado, algo aconteceu, um corpo estranho perturbou a harmonia da casa. Mesmo que você não chore ao presenciar o prantilégio de alguém - o que é normal -, acho quase inevitável não despertar um engasgo momentâneo na garganta inexpressiva, faltosa de palavras para serem manifestadas em socorro.
Os olhos podem clamar perdão ou suplicar um beijo; às vezes se deixam molhar por quem viaja, chovem - certamente - por quem vai e não pode voltar. Liberam água salgada, mas que pode vir por motivos doces: o reencontro, o nascimento, o riso desbragado, o amor provado. A lágrima é silenciosa, mas comunica; vem sozinha ou em bando; descarrega tensões, redime corações, e principalmente: expressa dor - seja do corpo, da mente ou da alma.
A lágrima é uma linguagem universal: seduz, persuade, dialoga. Ser sensível ao choro, ser amistoso à partilha da angústia, estar a postos para ouvir o atribulado, tudo isso revela a capacidade de sair de si para ir ao encontro do outro. Quem chora quer ser abraçado, confortado, quer se sentir seguro quando sente a falta de chão. A lágrima tem poderes que a nossa vã filosofia ainda desconhece.
Não, eu não nego... Sou daqueles que não resistem a uma lágrima.

Nenhum comentário:

Postar um comentário