Éverton
Santos
E
observem que também é com as lágrimas
que
o homem lava as aflições do homem.
(Baudelaire)
Não, não me diga que
você não se compadece ao ver alguém chorando.
A lágrima é como o sangue:
é aquilo que deve ficar do lado de dentro porque, se for externalizado, algo
aconteceu, um corpo estranho perturbou a harmonia da casa. Mesmo que você não
chore ao presenciar o prantilégio de alguém - o que é normal -, acho quase
inevitável não despertar um engasgo momentâneo na garganta inexpressiva,
faltosa de palavras para serem manifestadas em socorro.
Os olhos podem clamar
perdão ou suplicar um beijo; às vezes se deixam molhar por quem viaja, chovem -
certamente - por quem vai e não pode voltar. Liberam água salgada, mas que pode
vir por motivos doces: o reencontro, o nascimento, o riso desbragado, o amor
provado. A lágrima é silenciosa, mas comunica; vem sozinha ou em bando;
descarrega tensões, redime corações, e principalmente: expressa dor - seja do
corpo, da mente ou da alma.
A lágrima é uma
linguagem universal: seduz, persuade, dialoga. Ser sensível ao choro, ser
amistoso à partilha da angústia, estar a postos para ouvir o atribulado, tudo
isso revela a capacidade de sair de si para ir ao encontro do outro. Quem chora
quer ser abraçado, confortado, quer se sentir seguro quando sente a falta de
chão. A lágrima tem poderes que a nossa vã filosofia ainda desconhece.
Não, eu não nego... Sou
daqueles que não resistem a uma lágrima.
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