Flávio Passos
Tinha
apenas sete anos quando surgiu no colégio o mito da Big Loura. Segundo contavam,
era uma mulher alta, loira, de vestido branco que aparecia dentro do banheiro
da escola. Para fazer com que essa criatura aparecesse, era necessário puxar a
cordinha da descarga, bater palmas e dizer “Big Loura, Big Loura, apareça,
apareça”, tudo isso devia ser repetido três vezes, respectivamente. Ao cumprir
o ritual, um buraco negro se abria na porta, bloqueando sua saída, e a
misteriosa mulher saía de dentro dele.
Depois
que eu soube da existência dessa mulher, deixei de usar o WC da escola. Mas aí
tinha o banheiro de minha casa, e eu sempre implorava para que uma de minhas
irmãs fosse comigo e me esperasse na porta.
Essa
lenda me atormentou por muitos anos, mas, um dia, eu e minha irmã mais velha
resolvemos enfrentar a famosa Big Loura. Trancamos a porta do banheiro e
começamos o ritual: puxamos a cordinha da descarga três vezes, batemos palmas
três vezes e, por fim, dissemos: “Big Loura, Big Loura, apareça, apareça. Big
Loura, Big Loura. Apareça, apareça. Big Loura, Big Lou-ra”... Eu não consegui
terminar o ritual. Abri a porta com voracidade e saí em disparado para fora do
banheiro, correndo de algo que eu nem mesmo tinha chegado a ver e nem sei se
apareceu.
Hoje
me lembro desses fatos e começo a rir sozinho. Penso: em como somos ingênuos a
ponto de ter medo de algo que nunca vimos e nem mesmo sabemos se existe. Talvez
esse seja o poder que o mito tenha: o de fazer com que as pessoas acreditem naquilo
que jamais chegaram a ver, mas insistem em acreditar que existe e é como
realmente os outros pregam.
Sendo
verdade ou não, eu, até hoje, não me arrisco a praticar o virtual para ver a
Big Loura.
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