sexta-feira, 19 de abril de 2013

MÚSICA



Luciana Almeida

Dizem que a música é a arte de exprimir através dos sons os sentimentos da alma. É certamente ela que dilacera o coração, preenche a solidão, cria outros mundos que promovem a elevação da condição humana. Isso é ser prenhe de significado. A simbiose harmoniosa e esfuziante de cada nota em conjunto é uma das sensações mais honrosas que se pode existir, porque o músico, em sua interpretação, é maestro de si, dono do seu mundo, criador de seus desejos e sujeito ativo deles. Nada disso ninguém pode arrancar.
As melodias comoventes e intensas são as que mais dissolvem o eu, fragilizam-no. Mas lentamente todos os pedacinhos que foram abalados tornam-se invencíveis com a força expressiva dos movimentos vertiginosos. Ela sabe como criar tantos mundos primorosos em suas cores e fantasias, percorre tudo e todos em quatro paredes e contagia. Quando é suave, parece um murmúrio passando entre doces ventos leves e dissolve a alegria dos seres nostálgicos. Se for a tristeza que esteja presente, ela tem o poder de também desatar todos os laços duros e depressivos e faz com que tudo se amenize e se transforme num contentamento. 
Ser música é padecer na felicidade, é preencher os vazios da interioridade sem precisar tapá-los novamente. É ser vida. Ocupa todos os espaços, existe para todos os gostos, provoca desde a intensificação da dor ao ápice da alegria. Não há como ser mais vida do que isso.
As dificuldades e peripécias são como um instrumento desafinado: só precisam de persistência, alguns ajustes e um bom ouvido para serem desmanchadas e chegarem ao ponto ideal. Ponto de realizações, de superação, de plenitude do viver, por mais que seja passageira. E se assim o for, o processo começa todo novamente, pois a afinação é efêmera e necessita ser adubada pela inata sabedoria para poder reexistir outra vez.


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