Luciana Almeida
Dizem
que a música é a arte de exprimir através dos sons os sentimentos da alma. É
certamente ela que dilacera o coração, preenche a solidão, cria outros mundos
que promovem a elevação da condição humana. Isso é ser prenhe de significado. A
simbiose harmoniosa e esfuziante de cada nota em conjunto é uma das sensações
mais honrosas que se pode existir, porque o músico, em sua interpretação, é
maestro de si, dono do seu mundo, criador de seus desejos e sujeito ativo
deles. Nada disso ninguém pode arrancar.
As
melodias comoventes e intensas são as que mais dissolvem o eu, fragilizam-no.
Mas lentamente todos os pedacinhos que foram abalados tornam-se invencíveis com
a força expressiva dos movimentos vertiginosos. Ela sabe como criar tantos
mundos primorosos em suas cores e fantasias, percorre tudo e todos em quatro
paredes e contagia. Quando é suave, parece um murmúrio passando entre doces
ventos leves e dissolve a alegria dos seres nostálgicos. Se for a tristeza que
esteja presente, ela tem o poder de também desatar todos os laços duros e
depressivos e faz com que tudo se amenize e se transforme num
contentamento.
Ser
música é padecer na felicidade, é preencher os vazios da interioridade sem
precisar tapá-los novamente. É ser vida. Ocupa todos os espaços, existe para
todos os gostos, provoca desde a intensificação da dor ao ápice da alegria. Não
há como ser mais vida do que isso.
As
dificuldades e peripécias são como um instrumento desafinado: só precisam de
persistência, alguns ajustes e um bom ouvido para serem desmanchadas e chegarem
ao ponto ideal. Ponto de realizações, de superação, de plenitude do viver, por
mais que seja passageira. E se assim o for, o processo começa todo novamente, pois
a afinação é efêmera e necessita ser adubada pela inata sabedoria para poder
reexistir outra vez.
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