Christina Ramalho
Ainda há pouco assisti, com minha sobrinha Alice,
ao filme O encanto das fadas, do diretor Charles Sturridge, com Peter
O'Toole representando Sir Arthur Conan Doyle. Uma das personagens principais, a
menina de 12 anos chamada Elsie, lembra à Francis, sua priminha de 8 anos, que,
ao nos tornarmos adultos, além de não vermos mais as fadas, começamos a nos
esquecer delas. Por isso, ela diz, a fotografia (as duas tiraram fotografias
das fadas que encontraram no riacho perto da casa) é importante. Ao ver uma
fotografia, podemos relembrar algo que foi real, que foi vivido e que nos
trouxe emoção, ainda que não possamos mais viver de perto, novamente, o que
passou. A emoção, todavia, por ter sido verdadeira, volta como algo bonito,
porque representa uma parcela de nós que vibrou em algum momento, em algum
lugar. O que provoca o encantamento é justamente essa energia balsâmica que
sobrevive às horas.
Depois de assistir ao filme, encontrei respostas
para a relação que tenho com a fotografia. É exatamente assim que penso e vivo
a fotografia. Minha câmera não consegue ser um instrumento de denúncia. Não
consigo fotografar assim. (Ainda bem que há muitos e muitas que pensam
diferente de mim, pois o mundo precisa de outros olhares...). O que me move é
esse desejo de capturar o que na vida, nas paisagens, nas pessoas, nos animais,
nas flores, é presente. Presente, por ser impalpável, por partir logo ali, depois
da virada dos ponteiros. Presente, por ser dádiva desse mesmo impalpável tempo,
sempre a nos oferecer suas lições.
O encanto das fotos me soa assim. Álbuns e mais
álbuns, pessoas, animais, flores, paisagens: ora no armário da sala, ora em
minhas mãos, há vida sendo celebrada em minha casa. O passado vem trazendo
enfeites para o presente. Não enfeites de melancolia, mas pequeninos adornos,
em cuja suavidade repousa a certeza absoluta de que sempre haverá imagens
dignas de serem capturadas apenas porque significam que a beleza aconteceu em
nossas vidas. Se a beleza se perdeu como matéria, não se perderá como memória,
se realmente foi beleza.
(Natal,
21 de março de 2008)
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