quinta-feira, 13 de junho de 2013

O ENCANTO DAS FOTOS


Christina Ramalho

Ainda há pouco assisti, com minha sobrinha Alice, ao filme O encanto das fadas, do diretor Charles Sturridge, com Peter O'Toole representando Sir Arthur Conan Doyle. Uma das personagens principais, a menina de 12 anos chamada Elsie, lembra à Francis, sua priminha de 8 anos, que, ao nos tornarmos adultos, além de não vermos mais as fadas, começamos a nos esquecer delas. Por isso, ela diz, a fotografia (as duas tiraram fotografias das fadas que encontraram no riacho perto da casa) é importante. Ao ver uma fotografia, podemos relembrar algo que foi real, que foi vivido e que nos trouxe emoção, ainda que não possamos mais viver de perto, novamente, o que passou. A emoção, todavia, por ter sido verdadeira, volta como algo bonito, porque representa uma parcela de nós que vibrou em algum momento, em algum lugar. O que provoca o encantamento é justamente essa energia balsâmica que sobrevive às horas.

Depois de assistir ao filme, encontrei respostas para a relação que tenho com a fotografia. É exatamente assim que penso e vivo a fotografia. Minha câmera não consegue ser um instrumento de denúncia. Não consigo fotografar assim. (Ainda bem que há muitos e muitas que pensam diferente de mim, pois o mundo precisa de outros olhares...). O que me move é esse desejo de capturar o que na vida, nas paisagens, nas pessoas, nos animais, nas flores, é presente. Presente, por ser impalpável, por partir logo ali, depois da virada dos ponteiros. Presente, por ser dádiva desse mesmo impalpável tempo, sempre a nos oferecer suas lições.

O encanto das fotos me soa assim. Álbuns e mais álbuns, pessoas, animais, flores, paisagens: ora no armário da sala, ora em minhas mãos, há vida sendo celebrada em minha casa. O passado vem trazendo enfeites para o presente. Não enfeites de melancolia, mas pequeninos adornos, em cuja suavidade repousa a certeza absoluta de que sempre haverá imagens dignas de serem capturadas apenas porque significam que a beleza aconteceu em nossas vidas. Se a beleza se perdeu como matéria, não se perderá como memória, se realmente foi beleza.

(Natal, 21 de março de 2008)

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