Éverton Santos
Olhe,
mesmo sem pretensão, e descubra a destruição que um olhar pode provocar quando
se cruzam dois pares de olhos únicos e inequívocos. Basta um instante, um átomo
de impacto, e o desejo consome, a vontade de navegar somente naqueles mares já
grita alucinadamente. Os vitrais que sondam a alma e refletem o mais
inescrutável denunciam: cupido passou e fez vítimas.
Enxergue,
deixe-se empurrar pelas ondas enigmáticas, pela imensidão inebriante que paira
nos dois glóbulos. Sinta-se flutuar a cada vez que os dois campos de visão se
unificarem; procure o sorriso, a lágrima, a satisfação ou a mágoa naqueles que
não disfarçam; feche-os quando beijar. Empreenda buscas, torne-se desbravador,
compreenda a luz emanada pelas lamparinas: seja tradutor dos que falam na
mudez.
Veja,
decifre a linguagem, deixe-se tornar prisioneiro, detenha a paixão e a
transforme no sentimento fulcral. Olhos são abismos de vida e de morte, lume
dos perdidos e perdição dos fortes, faróis sedentos por almas a seduzir na
guarnição armada contra a solidão. Querer explicá-los é tirar-lhes o encanto
misterioso; descrevê-los é deixar-se enganar: esses espelhos d’água
descortinam-se no ar.
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