sexta-feira, 7 de junho de 2013

O OLHAR


Éverton Santos

Olhe, mesmo sem pretensão, e descubra a destruição que um olhar pode provocar quando se cruzam dois pares de olhos únicos e inequívocos. Basta um instante, um átomo de impacto, e o desejo consome, a vontade de navegar somente naqueles mares já grita alucinadamente. Os vitrais que sondam a alma e refletem o mais inescrutável denunciam: cupido passou e fez vítimas.
Enxergue, deixe-se empurrar pelas ondas enigmáticas, pela imensidão inebriante que paira nos dois glóbulos. Sinta-se flutuar a cada vez que os dois campos de visão se unificarem; procure o sorriso, a lágrima, a satisfação ou a mágoa naqueles que não disfarçam; feche-os quando beijar. Empreenda buscas, torne-se desbravador, compreenda a luz emanada pelas lamparinas: seja tradutor dos que falam na mudez.
Veja, decifre a linguagem, deixe-se tornar prisioneiro, detenha a paixão e a transforme no sentimento fulcral. Olhos são abismos de vida e de morte, lume dos perdidos e perdição dos fortes, faróis sedentos por almas a seduzir na guarnição armada contra a solidão. Querer explicá-los é tirar-lhes o encanto misterioso; descrevê-los é deixar-se enganar: esses espelhos d’água descortinam-se no ar.

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