Éverton Santos
Triste coisa é padecer de solidão!
Há tantos por aí que aspiram a sobreviver como
eremitas, ensimesmados, diletantes da própria presença, unicamente, sem
necessitar desfrutar da existência de mais alguém. Porém, isto equivale a ser o
singular habitante de uma ilha que, exaurido da coletividade, cansado de sorrir
hipocritamente, decidido a virar casulo, trancafiado numa masmorra, sem meada
para uma metamorfose futura, avança contra as vagas da multidão. É. Em tempo de
crise de personalidade e de transtornos os mais diversos, me pergunto se também
fui contaminado pelo germe da depressão, ou se apenas busco inspiração na
palpável matéria que tão bem conheço.
Quem nunca sentiu um abalo no peito, um vazio
existencial, um oco que, de tão profundo, faz eco? E que atire a primeira pedra
o cavaleiro andante que, por motivo de amor, de dor sem quê nem pra quê, ou de
hipocondria, sequer um dia já pensou em largar tudo e se jogar no mundo, no
inexprimível por palavras, na esperança de que, quando do regresso, tudo
estivesse em seu lugar, como acontece após faxina de fim de semana! Afinal, as
noites traiçoeiras também têm fim, dizem...
Quem já se olhou no espelho e não se reconheceu?
Quem já dormiu sem vontade de acordar no dia seguinte? Quem já achou que jogar
tudo para o alto era remédio e cura, quando o pior veneno era segregado dentro
de si? Sim. Existem espelhos que se voltam para fora e para dentro, e as faces
que se mostram são tantas quantas queiram refletir: há quem sorria quando se
implode de tristeza; quem dissimule bem-estar quando a vontade é sair esganando
meio mundo e mandar o que reste para o quinto dos infernos; há quem suspire e
irradie ternura quando as forças se concentram para inibir os freudianos
impulsos de morte. Mas, afinal, qual o espelho que reflete, sem mentir e
fielmente, a verdadeira identidade do fragmentado indivíduo pós-moderno?
Porque... porque a vida é um combate incessante do
qual não se deve desistir...
E a solidão, onde guardá-la, como saná-la, por que
liquidá-la, quando amá-la? E o que fazer com o que está vazio e apenas
preenchido pela melancolia? Ah, joga fora no lixo, faz uma festa no apê, porque
há tanta vida lá fora, e, mesmo caminhando contra o vento, sem lenço, sem
documento... Eu vou! É! O céu não está mais gris! E eu quero apenas ter um
milhão de amigos e bem mais forte poder cantar!
É que somente quando se atravessa o vazio do
deserto torna-se possível guerrear com a aridez da vida. E só quem se descobre
vivo além do próprio umbigo é capaz de perceber que cada manhã não é convite,
mas carta de intimação.
E o sorriso continua a ser o cartão postal mais
sublime para por fim a qualquer solidão.
Parabéns, Éverton, pela sensibilidade que você possui, e, principalmente, por compartilhá-la com todos nós por meio de sua palavra. Beijos.
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